A coordenadora de Políticas Étnico-Raciais, Alessandra Laurindo, e a gestora da Casa SP Afro Brasil “Osvaldo Bogé”, Viviane Ferreira, foram as convidadas da edição desta segunda-feira (13) do “Canal Direto com a Prefeitura”, que abordou os detalhes do Novembro Negro, programação desenvolvida em alusão ao Mês da Consciência Negra e promovida pela Prefeitura de Araraquara por meio da Coordenadoria Municipal de Políticas Étnico-Raciais com o objetivo de despertar para reflexão e envolver a população em geral para uma ação prática e efetiva, seja através do impacto visual, do estímulo à conscientização coletiva, mas principalmente para a valorização da identidade e da cultura afro-brasileira.
Viviane falou sobre a questão “Até onde vai o seu racismo”, que é o tema da programação deste ano. “O Novembro Negro deste ano vem com um tema pesado, que pergunta até onde vai o seu racismo. Nós, enquanto coordenadoria, pensamos muito para levar esse tema. Estamos com mais de 60 casos de racismo em Araraquara durante seis meses, casos envolvendo crianças, escolas e entidades. É uma forma bem complicada de sabermos até onde vai esse racismo. A partir do momento em que publicamos o nosso Novembro Negro, começou um levantamento muito negativo da população. Então essa pergunta acabou ferindo muitas pessoas. E eu estava falando com a Alessandra sobre o que passamos no nosso dia a dia, enquanto pasta, enquanto coordenadoria, porque não trabalhamos esse tema só em novembro. Trabalhamos de janeiro a janeiro. Temos uma demanda de palestras em escolas de janeiro a outubro, mas em novembro temos a programação da casa. Temos muitas escolas ligando, achando que não estamos atendendo ou não estamos dando uma certa atenção, mas estamos anotando tudo e no ano que vem daremos continuidade a esse trabalho”, explicou.
Alessandra fortaleceu a relevância do debate proposto pelo tema da campanha. “É importante dizer que o racismo, na verdade, não deve ir a lugar algum. Temos feito letramento racial em vários espaços e toda vez que perguntamos quantas pessoas no local acreditam que existe racismo, todas as pessoas levantam a mão. Quando perguntamos quem é racista, ninguém levanta a mão. Então as pessoas precisam primeiramente se entenderem enquanto racistas para depois aprender a desconstruir esse racismo. E é nessa perspectiva que fizemos essa chamativa para o tema. Dialogamos muito para podermos construir essa temática para despertarmos a reflexão. Por mais que trabalhemos durante o ano todo nessa temática, é em novembro que essa pauta tem uma atenção maior. É momento de chamarmos a atenção para que as pessoas reflitam e não deixem o racismo chegar a lugar algum”, acrescentou.
Viviani apontou que o racismo está presente na vida da população negra de várias formas. “Escutamos muito as pessoas falarem que têm um amigo negro, tem uma mãe negra, mas isso são coisas diferentes. Nós somos negros e quem é negro sente na pele esse racismo todo dia, não é só no mês de novembro. Para a sociedade ser antirracista, eu acredito que falta as pessoas estudarem mais de onde nós viemos. São 398 anos de escravidão e acredito que as pessoas devem ver mais a nossa sofrência, que não é de hoje. Nós, enquanto mulheres pretas, enquanto mães pretas, sofremos um pouquinho mais esse racismo. E é importante que a sociedade pare de falar que somos todos iguais. Somos todos iguais ao olhar de Deus sim, mas na hora de entregar um currículo, de ser contratado ou entrar em uma loja e não ser seguido pelo segurança, nós não somos todos iguais. Além disso, quando chegamos nos espaços, não somos bem recebidos. Somos tratados mal pela cor da nossa pele, pela forma do nosso cabelo, pelas nossas vestes. Então é preciso reconhecer um pouco mais a nossa história e estudar um pouquinho melhor”, salientou.
Alessandra falou sobre os eventos que já movimentaram a programação do Novembro Negro na cidade. “Iniciamos a programação no dia 4 com a abertura de uma linda exposição na Casa SP Afro. Trata-se de uma exposição da Família Valério, uma família linda que fez uma exposição da África dos orixás à umbanda brasileira, disponível para visitação até o dia 20 de novembro. Fizemos o lançamento do livro do professor Dagoberto com uma feira linda com música e afroempreendedores na Feiraxé. E desde então a programação não parou mais. Viemos em um ciclo com uma atividade e chegamos no sábado com o Samba com Consciência. Esse é um projeto que temos um carinho muito grande, feito em parceria com a Secretaria de Cultura e Fundart, que acolheu o projeto. Nele, fazemos, no meio do samba, uma intervenção da luta antirracista com a Kizie de Paula, poetiza maravilhosa, que é uma ativista da luta antisrracista. Conseguimos misturar o samba de qualidade do Grupo Jeito Simples com as intevenções poéticas da luta antirracista. E trazemos uma nova edição amanhã, que tem uma programação recheadíssima”, pontuou.
Nesta terça-feira (14), a programação envolve a visita da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. “Para nós é uma programação muito especial, porque teremos a maior autoridade da questão racial presente em Araraquara. É algo que todas as cidades clamaram, mas a ministra da Igualdade Racial vai estar em Araraquara. É uma honrosa visita da ministra Anielle Franco, que vai participar da inauguração do Centro de Cultura das Religiões Matrizes Africanas, que também é uma conquista histórica por meio do Orçamento Participativo. A população foi lá, se reuniu, votou e o governo sabiamente chancelou essa conquista. Temos a elaboração desse centro, que também é pioneiro no Brasil e a ministra vem para fazer a inauguração às 16h. Logo em seguida, teremos uma reunião com lideranças pretas, que toda a região também se mobiliza para participar, também com a presença da ministra. E em seguida, às 19h30, na praça do setor 3 do Selmi Dei, temos a continuidade do Samba com Consciência, também com intervenção cultural. Temos esse projeto na Zona Norte e depois na sexta-feira na Zona Sul também, que é para dar oportunidade para a população chegar e nós vamos até ela”, frisou Alessandra.
A lista de atrações é motivo de muito orgulho para a coordenadora. “A programação está muito ampla, mas não podemos deixar de falar da programação de shows fantásticos. É sem dúvida alguma o maior Novembro Negro, não só de Araraquara, mas digo que no Estado de São Paulo não vemos programação semelhante, nem mesmo na capital”, opinou.
O Novembro Negro em Araraquara terá três dias de shows no Cear, com entrada gratuita para o público e atrações imperdíveis como Teresa Cristina, Rincon Sapiência, Mariene Castro e Seu Jorge. “O Seu Jorge chega para fazer aquele auê. Ele é cantor, é ator, é esse fenômeno reconhecido mundialmente e estará aqui no dia 20 de novembro marcando presença. É sem dúvida o maior Novembro Negro da história de Araraquara. Estamos felizes com essa programação, com o carinho com o qual o Edinho fez essa parceria com o Ministério do Turismo. Estamos radiantes porque o Sesc veio como parceiro nessa programação e foi uma junção que deu muito certo. Através do Sesc, Ministério do Turismo e Prefeitura Municipal de Araraquara, conseguimos dar a melhor programação para a nossa cidade”, concluiu Alessandra.
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Com informações da Prefeitura de Araraquara