A 29ª Conferência do Clima da ONU, COP29, começou nesta segunda-feira em Baku no Azerbaijão, em meio a novos recordes de calor e eventos climáticos extremos, contexto que reforça a necessidade por ações coletivas.

Na abertura do evento, o secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Unfccc, disse que é preciso “acabar com qualquer ideia de que o financiamento climático é caridade”.

Aumento da ambição no financiamento

Para Simon Stiell definir uma nova meta ambiciosa de financiamento climático é crucial para o bem-estar de todas as nações, incluindo as mais ricas e poderosas. Ele ressaltou que a mudança climática impacta “cada indivíduo no mundo de uma forma ou de outra”.

Em 2009, os países se comprometeram com investimentos de US$ 100 bilhões anuais, mas o valor é considerado muito menos do que o necessário para lidar com o rápido aumento das temperaturas do ar e do mar. Mas muitas nações reclamam não ter recebido a contribuição.

Se dirigindo aos negociadores da COP29, Stiell disse que a conferência é o único lugar onde os países podem “abordar a crise climática desenfreada e cobrar uns dos outros ações de resposta”.

Brasil pede “compromissos ousados” com proteção de florestas

Em entrevista à ONU News, em Baku, o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Brasil disse que há uma expectativa muito positiva em relação ao financiamento, “tanto para a mitigação de emissões como para a adaptação climática de infraestruturas e cidades”.

O secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Brasil, Rodrigo Rollemberg, na COP29

O secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Brasil, Rodrigo Rollemberg, na COP29

Rodrigo Rollemberg declarou que na COP30, que será sediada na cidade de Belém, no Brasil no próximo ano, o foco será no financiamento da preservação da floresta amazônica. Ele afirmou que os países desenvolvidos devem estar comprometidos em incluir o tema em suas respectivas contribuições nacionalmente determinadas.

Falando em inglês, o secretário ponderou que “se há um valor perdido no desmatamento, há também um valor a ganhar em manter a floresta em pé”. Nesse sentido, ele defendeu “compromissos ousados” de financiamento climático na preservação e restauração das matas.

Risco de colapso da economia

O chefe de Clima da ONU afirmou que o processo estabelecido pelas COPs está funcionando, pois sem ele “a humanidade estaria caminhando para 5°C de aquecimento global.”

Ele ressaltou toda a economia mundial pode entrar em colapso se os países não conseguirem fortalecer suas cadeias de suprimentos diante do aumento dos custos associados aos choques climáticos.

Stiell citou como exemplo a queda dos níveis de água no Canal do Panamá, que teve um impacto dramático nos volumes de transporte globais.

O secretário-executivo do Unfccc questionou os participantes da conferência se eles estavam dispostos a permitir que as contas de supermercado e energia em seus países aumentassem ainda mais, ou que suas nações se tornassem menos competitivas economicamente, ou que houvesse ainda mais instabilidade global.

Capacidade de cair e se levantar novamente

Ele seguiu o discurso dizendo que se a resposta a qualquer uma dessas perguntas fosse “não” é sinal de que um novo acordo de financiamento climático é essencial.

Stiell é natural de Granada e sua ilha natal, Carriacou, foi quase devastada pelo Furacão Beryl em julho. Ele mostrou a foto da sua vizinha Florence, de 85 anos, que perdeu a casa e se tornou mais uma dos milhões de vítimas do caos climático.

Segundo Stiell, mesmo com as perdas, ela se manteve forte para sua família e para sua comunidade. O secretário-executivo lembrou que existem pessoas como  Florence em todos os cantos do planeta, que revelam a capacidade humana de cair e se levantar novamente.

O furacão Beryl causou devastação na Union Island, em São Vicente e Granadinas

O furacão Beryl causou devastação na Union Island, em São Vicente e Granadinas

Mundo mais imprevisível e perigoso para gerações futuras

O alto comissário de Direitos Humanos da ONU emitiu uma declaração em alusão à abertura da COP 29 afirmando que “um planeta superaquecido é o maior gerador de violações dos direitos humanos de todos os tempos”.

Volker Turk afirmou que em todo o mundo, as pessoas estão sendo forçadas à pobreza e à fome pelo caos climático.

Ele citou famílias que estão “vendo suas casas e meios de subsistência serem varridos por repetidas inundações”, tempestades e secas “apagando comunidades”. Para Turk, as gerações futuras herdarão “um mundo mais imprevisível e perigoso”.

O chefe de Direitos Humanos disse que enquanto os líderes “brigam e competem, o mundo está queimando”.

Enquanto isso, ativistas climáticos, defensores dos direitos humanos e jovens em todos os lugares estão mostrando verdadeira liderança, assumindo responsabilidades e destacando soluções, adicionou ele.

Temperatura acima de 1,54 C°

Com a abertura da COP29, a Organização Meteorológica Mundial, OMM, divulgou a Atualização do Estado do Clima em 2024 e emitiu um Alerta Vermelho sobre a mais rápida progressão das mudanças climáticas em uma única geração.

Os anos de 2015 a 2024 marcarão a década mais quente já registrada, com uma perda acelerada de gelo glacial, elevação do nível do mar e aquecimento dos oceanos.

De janeiro a setembro de 2024, a temperatura média global do ar na superfície foi 1,54 °C acima dos valores pré-industriais, de acordo com uma análise de seis conjuntos de dados internacionais usados ​​pela OMM.

Nos bastidores do Estádio de Baku, sede da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, COP29, realizada na capital do Azerbaijão, de 11 a 22 de novembro

Nos bastidores do Estádio de Baku, sede da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, COP29, realizada na capital do Azerbaijão, de 11 a 22 de novembro

O que observar na COP29

  • No que está sendo chamado de “COP de financiamento climático”, espera-se que representantes de todos os países estabeleçam uma nova meta quantificada coletiva (NCQG). Ela substituirá a meta existente de US$ 100 bilhões que expira em 2025.
  • Os países estão buscando operacionalizar o ‘fundo de perdas e danos ‘ acordado na  COP28 e visto como o principal fundo internacional que abordaria os prejuízos inevitáveis ​​da mudança climática. Não está claro quando o fundo será lançado e começará a fazer pagamentos.
  • Espera-se que todos os países apresentem novas metas climáticas, os compromissos nacionalmente determinados, NDCs, até fevereiro de 2025, alinhados com o nível de redução de emissões necessário para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.
  • Os negociadores estão focados em completar as diretrizes necessárias para  operacionalizar completamente o Artigo 6 do Acordo de Paris, que permite que as nações cooperem voluntariamente para atingir as metas de redução de emissões delineadas em suas NDCs. Entre outras coisas, o Artigo 6 permitiria que elas trocassem créditos de carbono produzidos pela eliminação ou corte de suas emissões de gases de efeito estufa, auxiliando outras nações a atingir suas metas climáticas.
  • Os países devem enviar seus primeiros relatórios bienais de transparência, exigidos pelo acordo de Paris.

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Com informações da ONU

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