Da lona ao estojo: empreendedora transforma resíduos do Carnatal em impacto social e ambiental

As batidas dos trios elétricos da tradicional micareta natalense, o Carnatal, finalizaram neste domingo (6). Mas, para Mychelli Magali, a agitação está apenas começando. A ex-professora e atual empreendedora no segmento de acessórios sustentáveis está com as lonas que acobertaram e embelezaram o espaço de eventos da festa para agora transformá-las em um acessório educativo: dois mil estojos escolares para estudantes das escolas municipais de Natal.

Contudo, esta não é apenas uma história de trabalho e sustentabilidade — que já tem seu grande valor — mas também de empoderamento profissional e realização de um sonho. Mychelli é formada em Pedagogia e atuava como professora polivalente, mas sempre quis “viver de algo que produzia”. Em meio à pandemia de Covid-19 — um período de tristezas, mas também de descobertas — ela comprou uma máquina de costura e decidiu se aventurar entre as linhas, com variados materiais e produtos, até se encontrar na produção de bolsas, mas ainda como um passatempo.

“Eu comecei a fazer bolsas com várias técnicas e materiais sintéticos, mas achava que poderia fazer algo muito melhor, que fosse um diferencial para mim e na vida das pessoas. Foi quando vi, pela internet, uma produção de bolsas com câmaras de ar feitas no Japão e então encontrei meu foco”, relata a artesã, que iniciou a produção nesta linha sustentável em maio de 2024.

Com a ideia em mãos, Mychelli procurou o Sebrae-RN com “uma bolsa, a cara e a coragem” e ingressou no programa Impacta RN — programa de pré-aceleração destinado a projetos de impacto socioambiental na fase inicial. “Eu não estava vivendo um bom momento financeiro, mas sabia que minha ideia era uma oportunidade de negócio e precisava de ajuda para fazer isso acontecer”, conta.

Durante cinco meses, de junho a meados de novembro deste ano, “sem ter noção nenhuma de empreendedorismo”, ela recebeu capacitações, consultorias e mentorias para o desenvolvimento de sua ideia, por meio do programa. Contando com a parceria do seu esposo, Márcio Faria, ela compartilha que seguiu aumentando o faturamento da empresa à medida que recebia as orientações.

“Eu comecei a conhecer um mundo novo e agarrei todas as oportunidades que o Sebrae me ofereceu”, compartilha Mychelli que, como resultado de sua determinação, ganhou o segundo lugar como melhor iniciativa de negócio participante do Impacta RN em 2024 e recebeu recursos financeiros para investimento em seu empreendimento.

Hoje, sua empresa de nome consolidado após as mentorias recebidas, “Alma de Borracha”, confecciona bolsas com câmaras de ar, colchões infláveis, cintos de segurança de carro, guarda-chuvas, lonas e outros resíduos que sejam costuráveis. O público-alvo, que eram pessoas físicas, também foi adaptado para empresas. “À medida que fui avançando no programa, comecei a entender que a sustentabilidade tem sido uma necessidade muito grande para as empresas”.

Nesse contexto, ao final de novembro, Mychelli recebeu uma encomenda de 100 unidades de necessaires feitas com câmaras de ar e, logo depois, fechou um contrato com a Clap Entretenimento, responsável pela organização do Carnatal, para a confecção de dois mil estojos com lonas utilizadas durante o evento. “A gente vai transformar as lonas, que seriam descartadas, em estojos a serem distribuídos para as escolas municipais”, explica.

Essas negociações fortaleceram o foco comercial da empresa para o próximo ano, segundo Mychelli. “Temos percebido como uma demanda das empresas a reorganização do que elas produzem, principalmente com banners. Esses materiais, que são costuráveis, conseguimos transformar em bolsas, lembranças e presentes. Dessa forma, esse material acaba não indo mais para os aterros, mas tem outro destino. O que iria ser de fato descartado passa a ter uma nova vida significativa, tanto para ele, que vai fazer, como para mim, que vou produzir”, conclui.

Da ideia ao negócio

O edital Impacta RN 2024 faz parte da atuação do Sebrae no Rio Grande do Norte para fortalecer o ecossistema de negócios que possuem um impacto social significativo ou que promovem a sustentabilidade ambiental, estando na fase inicial de seus negócios. Neste edital, 23 empresas participaram.

A instituição, enquanto fomentadora do empreendedorismo, não atua apenas com empresas consolidadas, mas também auxilia na transformação de ideias em negócios. Segundo Elisete Lopes, gestora do programa Impacta RN, transformar uma ideia em um negócio sustentável e estruturado exige não apenas coragem, mas também orientação estratégica.

“No Sebrae, nosso papel é oferecer as ferramentas necessárias para que empreendedores transformem sonhos em empresas reais, com potencial de crescimento e impacto. Por meio de programas como o Impacta RN, ajudamos a alinhar propósito e lucro, conectando inovação socioambiental à realidade do mercado e garantindo que boas ideias se tornem negócios de sucesso capazes de impactar positivamente o ecossistema onde estão inseridos”, enfatiza.

Os participantes do programa receberam capacitação em vendas, trilhas de finanças, indicadores, gestão, precificação e modelagem de negócios de impacto. Além disso, contaram com oficinas de pitch, mentorias em diversas áreas, consultorias específicas de gestão, mercado e aproximação comercial.